Reflexões sobre o Dia dos Avós
Perdemos nosso pai em 2003 e nossa mãe em 2019. Para os doze netos, nossos filhos, o primeiro Dia dos Avós sem eles foi no primeiro ano da pandemia. Minha irmã, Eliane, emocionada, escreveu sobre isso.
Aos irmãos, reflexões sobre o Dia dos Avós. Por Eliane Craveiro de Freitas.
Queridos,
recebi ontem muitas mensagens pelo Dia dos Avós. Algumas bem afetuosas, outras divertidas, outras de forte tom religioso. Todas realçavam a importância dos laços afetivos entre avós e netos.
Não gosto muito dessas datas marcadas, pois avós são avós todos os dias e amam os netos sempre. Mas talvez pelo isolamento da quarentena, talvez pela saudade da Mamãe, especialmente neste dia fiquei a pensar em como nossos filhos foram felizardos por terem tido os avós por tantos anos. E estes avós tão especiais!
Eles foram muito marcantes, muito presentes, e participaram intensamente da vida dos netos.
Lembrei de tantas histórias… O Vô era antiamericano de carteirinha… mas bastou a Juliana mudar pra Gainesville pra ele e a Vó irem pra lá todo ano, sempre entusiasmados durante os 5 anos em que ela e o Gustavo moraram lá.
Em uma das tantas vezes que se programaram para irem guiando a Cuiabá, já maduros, eu perguntei “é muito cansativo, porque não vão de avião?” e eles na hora, “porque de carro dá pra levar a bagagem que quisermos (era sempre muita) e chegando lá podemos levar os guris pra passear”.
Lembrei de um retorno de pescaria, em que o Vô muito animado disse ter encontrado um ótimo parceiro: não falava demais, não assustava os peixes, carregava toda a tralha e aguentava ficar o dia todo na beira do rio com ele. Era o Theo.
Quando a Fê, ainda bem pequenininha, ouvindo “India” no rádio do carro dele começou a cantarolar acompanhando a música, ele rindo feliz atestou: essa é minha neta!
Quando havia apresentação da Paula em Campinas, eles se preparavam muitos dias antes, como se Campinas não ficasse a menos de uma hora de Atibaia!
Quando o Nuno, com 6 ou 7 anos, depois de uma “aula” sobre a 2ª Guerra perguntou “Vô, todas essas coisas bacanas que o senhor sabe, o senhor também aprendeu com seu avô?” ele chorou emocionado e disse “veja o que é um neto na vida da gente”!
Nos aniversários, nas formaturas, nos casamentos dos netos, eles sempre estiveram presentes e participantes… Tornaram inesquecíveis coisas simples como uma partida de buraco, um cachecol de tricô, uma história da guerra, uma música, uma pescaria, uma receita tradicional de bolo de Natal e tantas outras coisas que constituem um tesouro de memória, de afeto, de acolhimento, de carinho e de amor.
Penso que todos nós Craveiro recebemos um legado especial sobre o que é “ser avós”, que é muito mais amplo do que “ter netos”.
Ter netos é natural, é consequência meio óbvia de ter tido filhos…
Ser avô é mais intenso, mais comprometido, mais amoroso. É estar presente e disponível principalmente quando necessário.
É amar sempre.
A Mamãe já morava nas freirinhas e com frequência pedia pra nomear todos os netos; como percebia que misturava um pouco as estações, dizia “vai falando por ordem de chegada” kkk: Juliana, Nuno, Mariana, Alexandre, Rodrigo, Paula, Fernanda, Guilherme, Lucas, Theo, Thomas e Aryeh. Doze netos!
Repetia todos os nomes outra vez, pedindo pra acrescentar os parceiros de cada um, e os bisnetos! E ficava feliz em acrescentar os “novos”, como ela dizia, e localizava um a um nos quadros de fotos na parede. E “ganhava o dia” por isto.
Fiquei me perguntando se aprendemos suficientemente com eles…
Se somos os avós que eles foram…
Se nossos netos são tão felizardos como nossos filhos…
Se entendemos direito a diferença entre “ter netos” e “ser avós”!!
Que Deus nos ilumine e nos abençoe!!
Um beijo.