Será possível debater política, candidatos e partidos, sem apelar, sem ofender, sem baixar o nível, respeitando as divergências? Eis aqui uma conversa entre amigos, no Facebook, sobre a Marina, neste sábado.
Publiquei: “É engraçado como um monte de gente detona a Marina como despreparada, inculta, que fala difícil, tem origem em uma região subdesenvolvida etc. No máximo, admitem que é “gente boa”, mas gente boa não é critério para eleger ninguém, dizem. Mais engraçado ainda é que os governistas puxam esse bloco, esquecendo-se que era exatamente isso que diziam do Lula: despreparado, nordestino, inculto, fala mal etc. O mundo gira e os lusitanos rodam.”
O problema da Marina é que ela tem a modernidade de pensamento do Talibã, é norteada pela religião, ou seja alem da bancada evangélica, que já é um atraso, ainda corremos o risco de um executivo evangélico também… aliás ela de despreparada não tem nada, criou um partido, já foi candidata uma vez e “inocentemente” hoje lança a mulher do Eduardo Campos de vice…
Pois é, não acho que a gente tenha que concordar e ter absolutamente 100% de posições iguais a quem a gente queira eleger na próxima eleição. Aliás, quem pensa exatamente igual em tudo com qual candidato?
Temo pelo lado evangélico da Marina menos do que temo pela corrente estalinista estatista do PT ou a corrente Opus Dei alkiminista do PSDB paulista – com a diferença que a Marina é a favor do Estado Laico e assumiu o compromisso de zelar por isso.
Já essas outras correntes, quero crer, minoritárias, fazem de tudo para tornar-se majoritárias com vistas grossas dos seus respectivos Capos. Tenho gente muito próxima na família que é homossexual e é feliz. Se a Marina tornar sua crença de evangélica contra a homossexualidade em política do Estado, vou me decepcionar e abandoná-la sem pestanejar. Mas ela já deixou claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Posições pessoais, não políticas de Estado.
Ela tem todo o direito de ter a fê que quiser. Você, Mário, de ser ateu, e isto não o faz comedor de carne de criança, como os comunistas de outrora. Tenho outro parente próximo que professa uma fé apocalíptica, ou seja, vive esperando o fim do mundo. O que eu vou fazer? Respeitá-lo como crente e cobrar que não me venha catequizar, porque eu não creio nisso.
Hahaha, vanguarda do retrocesso é bom demais! Tomara que não, confio que não! Agora, em matéria de Estado laico, estamos todos ferrados! O Brasil é muito conservador, todos os partidos estão de mãos dadas com as religiões, várias delas. Tucanos, petistas, socialistas, verdes, etc. todo mundo come nas mãos das igrejas, quaisquer que sejam elas.
Quais são esses petistas, Jura? A oposição petista à Marina que tenho lido foca na dissidência (dita ‘traição”, por alguns) e na conversão dela ao conservadorismo. Desqualificação por atributos pessoais, como você aponta, não vejo por aí. Quanto a falar difícil, creio que é inquestionável. O que é ótimo numa adversária, pelo que limita a sua comunicação.
A propósito de falar difícil, vide:
Não seria talvez um pouco mais simples se ela dissesse “Sim, serei candidata, para honrar a memória e os compromissos de Eduardo”?
Outro ângulo: se a Marina vencer, ela vai ter que assumir um estado absolutamente aparelhado pelos petistas que boicotarão o seu governo. Os demais partidos assumirão uma posição de cautela sacana para melar sua atuação e logo o PMDB se colocará à disposição para fazer um meio de campo ao seu modo.
No meio disso tudo, imaginem como ela conseguirá administrar o “legado” petista da inflação diante de uma política econômica desastrosa com bilhões em contas para serem pagas, deficit na Educação… A política da Saúde nas mãos dos cubanos, Petrobrás e Eletrobrás com dívidas monstruosas (sistema elétrico pronto para desabar), setor agrícola sem condições de escoar safra porque a infraestrutura de estradas e portos simplesmente estão um caos. E todo o PT assoprando as brasas pro circo pegar fogo de vez!
A Marina é mesmo uma pessoa de imenso valor, fantástica, um exemplo. Mas para segurar essa barra pós PT (leia-se bolivarianismo e Foro de SP), é preciso de muita, mas muita força política! O lance do estado laico ou demais ítens é fichinha perto do que ela – se eleita – terá de enfrentar.
Engraçado, você, Gabi, pergunta quais petistas (fazem o que eu disse – puxam o bloco de desqualificar Marina como despreparada, que fala difícil etc.) e logo em seguida dá um exemplo do que você acha que ela deveria dizer pra “falar bem”. Porque eu entendi o que ela disse: “Tenho compromisso com o que a perda do Eduardo no impõe.” Engraçado também é o meu outro amigo, Chicão, acima, dar a entender que ela não está preparada para enfrentar “o legado petista”. Perdoem-me, meus bons amigos, é flagrante: PSDB e PT estão odiando tudo isso. Esquerda e direita, unidas diante da Marina.
Amigo Jura, pra contribuir com o debate vou passar aqui um texto que escrevi sobre a Marina no dia 5 de outubro de 2013. Livre de qualquer influência da atual conjuntura. Grande abraço.
Quem é Marina Silva? Filha de seringueiro, teve infância pobre, viveu numa palafita, militante ambientalista, evangélica da Assembleia de Deus. Foi filiada ao PT, onde foi eleita vereadora, senadora e ministra. Sua trajetória poderia ser comparada a do Lula, não fosse por um simples detalhe: acreditar que o atalho é o melhor caminho para o poder.
Sendo assim, virou uma criatura fluida, que consegue se misturar aos mais distintos elementos. Quem prestar um pouco mais de atenção no que diz Marina, vai perceber que ela não faz qualquer debate, sobre qualquer tema que possa gerar questionamentos ou interrogações sobre o que ela realmente defende. Notem que toda e qualquer fala de Marina é sempre de ordem moral, nem ética ela pode discutir.
Afinal, alguém poderia questionar a ética de um Heráclito Fortes, agora seu companheiro no PSB, que foi uma das estrelas do PFL/DEM. Mas alguém já viu a Marina dizer o que pensa sobre a economia? Alguém sabe qual sua opinião sobre saúde pública e temas como aborto, controle de natalidade, métodos contraceptivos e o programa Mais Médicos? Você pode me dizer qual opinião da Marina sobre o sistema bancário brasileiro e o financiamento da dívida pública? Alguém sabe dizer o que pensa a Marina sobre qualquer coisa?
Pois é, acredito que seja impossível descrever quem é essa mulher que defende temas sempre de forma genérica e baseada na sua moral. O que se pode esperar de alguém que qualquer partido pode servir para exaltar seu discurso moralista e que resolveu criar uma nova entidade chamada Rede.
Seria Marina uma neoteoambiultrafundamentalista? Afinal a distância entre uma multinacional e o Greenpeace para ela parece muito curta. Assim como sua defesa por mais justiça se confunde com as ideias do Pastor Feliciano. Da mesma forma, o Itau e o combate a pobreza podem andar juntos.
Quem dera alguém consiga decifrar essa Marina. Particularmente, não tenho qualquer dúvida da sua identidade amorfa, comum na política brasileira, mas no seu caso com um histórico que serve pra mascarar a sua semelhança com aquilo que seu discurso moralista tenta esconder.
Claro que a conversa não parou por aí. Mas é incrível como a discussão política no Facebook incandesce facilmente, cada lado entricheirado nos seus argumentos. Ainda assim, acho que é possível externar posições diferentes com veemência, mas sem violência ou agressão. Espero não me desiludir.
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